No mesmo dia partimos pro Mojave National Preserve. As vias secundárias são um capítulo à parte. O tempo inteiro passamos por lindos cartões postais, com o deserto sendo cortado apenas por um longo tapete de asfalto. Já bem perto da Entrada Sul passamos por Amboy, na histórica Rota 66, um lugarejo com uma placa que indicava “fundada em 1858, população 20”. Pela falta total de pessoas, tivemos a impressão de que era mentira. Estavam exagerando nessa quantidade toda…
No único posto de combustíveis, a gasolina estava descaradamente sendo vendida pelo dobro do preço médio. Além disso, ele estava fechado, nos obrigando a aguardar alguém aparecer.
Depois de abastecidos, partimos. Mais adiante, lemos um aviso alertando ser esta a última possibilidade nos próximos 150 quilômetros. Entendemos o porquê do preço.
Já dentro dos limites do parque, enquanto cruzávamos de sul a norte, eu ia analisando o local que previamente havia estudado no Brasil. Como todas as regiões desérticas que se prezem, ela é extremamente atraente e, diria até, mágica. Aqui, notava-se um espaçamento bem maior entre uma moita cortante e outra, tornando o solo mais visível e a paisagem com mais cor de terra. Porém, também era repetitiva. Corri durante algum tempo, treinando e sentindo as dificuldades do solo e da vegetação local, ganhando alguns arranhões.
Adorei este treino. Mas meu coração continuava pendendo pro Joshua Tree National Park…
Como faltava pouco tempo até escurecer ― e ninguém é de ferro ―, desviamos nosso caminho na direção de Las Vegas, que ficava a pouco mais de cem quilômetros da Entrada Norte. Quem sabe teria sorte e correria com um tênis cinco estrelas? Entramos no primeiro cassino que vimos e apostei meus tradicionais dez dólares nos caça-níqueis de vinte e cinco cents, sentindo que a sorte estava me observando… Fui com toda a fé!
No dia seguinte, rumamos pro famoso Death Valley National Park, onde se situa o ponto mais baixo dos EUA, Badwater, chegando a 86 metros abaixo do nível do mar. Com os 52 graus centígrados que peguei no Sahara, perto do Sudão, e os 58 graus centígrados que senti enquanto corria a Marathon des Sables, fiquei admirado com o vento quente e seco que insistia em soprar por lá. É algo realmente indescritível e, creio eu, único. Sem exagero, a região é quase irrespirável.
Aqui também fiz um pequeno treino, com o intuito de sentir o local em todas as suas nuances.
A região lembrava um pouco algumas áreas do Atacama no quesito “cor do solo”. Sua vegetação era mais escassa do que a dos outros dois parques, o que facilitaria a corrida em relação à possibilidade de ferimentos nos milhares de arbustos dos outros dois locais. Mas a beleza do Joshua Tree continuava vencendo.
Quem sabe volto em uma próxima oportunidade? Viramos o leme pro sul e retornamos à primeira opção, o Joshua Tree National Park.